sexta-feira, 22 de abril de 2011

O trabalho pedagogico com a cultura amazonica


O trabalho feito pelos educadores na sala de aula proveniente da cultura amazonica, é feito por meio de narrativas orais efetivadas pelos educandos destacando que alguns temas possibilitam o debate do assunto como a fé, que relaciona com o Círio, a alimentação saudável com as frutas e determinados costumes sociais relacionados com o clima da região. As manifestações no núcleo são inevitaveis por alguns educandos serem provenientes do interior que trazem não somente saberes sobre lendas, mas sobre atividades cotidianas sociais, como o trabalho com produção de cuias, farinha, paneiro etc. E que é repassado na convivencia comunitaria e familiar, por meio das culturas de conversa. O papel do educador é compartilhar o conhecimento e as culturas de forma interdisciplinar, respeitando os saberes e as manifestações culturais dos educandos e trabalhando o conceito de cultura em sala de aula partindo da realidade e praxis do aluno. Essa ação dialógica entre educador e educando é importante mediante os conflitos de saberes entre as gerações provenientes das mudanças socioculturais e educacionais entre a educação como estudo e a cultura de conversa. Nos levando a refletir sobre o carater pratico do estudo por possibilitar uma ascenção social, mas há uma desvantagem, a escola não está possibilitando o fomento dos valores comunitarios e familiares do cuidar, do respeito ao outro e a natureza, ações de soliedariedade, o sentimento de pertença a comunidade local entre outras. Destaca-se ainda a discriminação que sofre algumas mulheres, que são excluídas da escola, em função de suas atribuições sociais, como responsáveis por cuidar da casa, marido, filhos, pais, apesar de trabalhar na roça da mesma forma que os demais membros da família. 


 Afirmam que o tema cultura nem sempre é planejado, que é no diálogo travado com os educandos no ambiente educativo que aspectos da cultura amazonica são explorados e é valorizado por está relacionado ao cotidiano social e cultural dos educandos. Os educadores, também buscam construir a identidade do educando como ser enraizado na história, na vida social de uma região específica, a Amazônia.
Trabalhar a educação popular é trabalhar com o povo, com suas origens, com suas condições históricas. Quando se procura conhecer a identidade do aluno, de que Região é sua herança cultural, se estará trabalhando essa cultura, valorizando-o.

Os alfabetizandos devem ser respeitados, como sujeitos da educação, devendo ser escutados em suas falas, tendo o direito de tornar-se patícipe da decisão de transformar o mundo.
A metodologia, no incentivo às expressões orais, escritas dos educandos por meio de temas sociais e de interesses dos educando-os e, também, por meio de musica, de dramatizações, poemas, leituras de texto e passeios a pontos turísticos da cidade de Belém. Tem educandos que não sabem ler ou escrever, entretanto possuem o que Paulo Freire denomina de leitura de mundo e sua pratica docente é de visualizar como é a realidade.

Ler o mundo precede a leitura da palavra. Quem lê a palavra conhece o mundo, quem escreve o mundo, muda-o - Mediante os saberes e a realidade cultural dos educandos, os educadores diversificam sua metodologia. Esse olhar para a realidade do educando como ponto de partida da pratica pedagogica significa o respeito aos saberes e ao contexto cultural dos educando.

Alguns educadores afirmaram encontrar dificuldades no trabalho com a cultura amazonica, por falta de conhecimento sobre o assunto e por ser um assunto bastante amplo e rico com muitos aspectos a serem trabalhados, mas a ajuda do Nucleo melhora suas situações.

Uma educação de qualidade deve levar em conta a individualidade de cada aluno, assim como suas produções em aula. A cultura amazonica é inerente a vida desses sujeitos, a forma como eles manifestam isso é na verdade um dos ingredientes avaliativos no sentido da valorização, usado como subsídio para a construção das teias do planejamento do conteúdo.
Os educadores tem consciencia que a cultura amazonica é híbrida, multicultural e por isso trabalham pedagogicamente a autonomia dos sujeitos e a originalidade de suas culturas de forma respeitosa.

Referencias Bibliograficas: OLIVEIRA, Ivanilde Apoluceno de (org.). Cartografias ribeirinhas: saberes e representações sobre práticas sociais cotidianas de alfabetizandos amazônidas. 2.ed. Belém: EDUEPA, 2008.

O respeito dos educadores populares à diversidade cultural


 A diversidade cultural na Amazonia constituida por suas lendas, culinarias entre outros é tratado com respeito pelos educadores, mesmo que sejam de diferentes crenças religiosas. Os educadores vivenciam a cultura amazonica em sua vida pessoal expressa pelas histórias contadas por pessoas da família e por amigos; pela participação em atividades culturais, pelo uso de amuletos, uso de termos paraenses, pela musica, pela medicina natural, pela culinaria e praticas cotidianas sociais.

A cultura Amazônica é compreendida como algo inerente ao modo como o ser humano vive e se percebe no seu mundo cotidiano, delineando a organização dos grupos sociais.

No trabalho educativo, quando se fala em cultura amazonica, mesmo vivenciando-as, muitos a resumem somente à cultura da floresta, ao saber da floresta, e não é somente isso. Não é só folclore ou lenda, e sim, é como o homem no seu cotidiano se percebe, como ele acha soluções.


Referencias Bibliograficas: OLIVEIRA, Ivanilde Apoluceno de (org.). Cartografias ribeirinhas: saberes e representações sobre práticas sociais cotidianas de alfabetizandos amazônidas. 2.ed. Belém: EDUEPA, 2008.

A Cultura Amazônica em práticas pedagógicas de educadores populares


O trabalho fala das atividades educativas realizadas pelo Núcleo de Educação Popular em Belém/PA - NEP/PA com as comunidades hospitalares periféricas e rurais-ribeirinhas e as representações sobre a cultura amazônica e suas manifestações detectadas pelos educadores mostrando que além do espaço escolar a cultura é expressa nas conversas, oralidade dos mais antigos, na transformação de saberes, dos valores, da tradição social das populações locais configurando uma pratica na qual a cultura é fundamental no processo de formação social dessas comunidades. Reafirmando a relação que os educandos estabelecem com o saber construído no seu cotidiano social sendo fundamental ao desenvolvimento das praticas pedagogicas. Mergulhar nas aguas culturais das massas populares implica em compreendê-las para desenvolver uma nova pratica pedagogica.

Viver a cultura amazônica é confrontar-se com diferentes condições de vida locais, de saberes, de valores, de práticas sociais e educativas, bem como uma variedade de sujeitos de diferentes matizes étnicas, religiosas em interação com a biodiversidade dos ecossistemas da Amazônia. Esses saberes estão no centro dos debates sobre a formação e a pratica de educação popular e este estudo possibilita à construção de novas diretrizes e praticas educativas, cujo ponto de partida é a reflexão sobre a praxis dos educadores e educandos contextualizada na cultura local.

Os objetivos do estudo são:
  • Identificar as representações sobre cultura amazônica presente na pratica cotidiana pedagogica de alfabetizadores e alfabetizando;
  • Repensar a prática alfabetizadora, a partir da reflexão da propria pratica dos educadores e dos educandos, contextualizada na diversidade de comunidades: hospitalares, periféricas e rurais-ribeirinha.
Esta investigação é considerada um estudo da comunidade ou realidade social, centrada sobre dados locais, fatos conectivos, percepções vivenciadas com enfase na:

  1. Participação integrada de professores e alunos de uma escola ou de um curso de alfabetização;
  2. A interação da equipe de pesquisa com a comunidade
Ela não é uma pesquisa sobre ou na comunidade. É uma pesquisa da e pretende ser, também, uma pesquisa com a comunidade.


Procedimentos:
  1. Levantamento bibliografico: Sobre temas relativos a educação popular, saberes, cultura, cultura amazônica, representações sociais, entre outros envolvendo grupos de estudo;
  2. Levantamento documental: Relatórios de atividades dos educadores e das produções dos alfabetizando (textos, discursos, desenhos);
  3. Dinamicas pedagogicas: Com os alfabetizandos envolvendo temas relativos a cultura amazônica;
  4. Entrevistas: Com os educadores do Núcleo, abrangendo temas com vivência com a cultura amazônica na vida pessoal, educativa e social, com enfase para as atividades, manifestações e representações culturais dos alfabetizandos.
A cartografia dos saberes baseia-se na cartografia cultural como uma tentantiva de delinear significados que existem, tanto na superficie, como submersos manifestos do encontro pedagógico. Tudo isso possibilitou o mapeamento de saberes culturais amazônicos:

  • Vocabulario;
  • Medicina popular;
  • Culinária;
  • Lendas e Mitos;
  • Religiosidade popular;
  • Musicas;
  • Fauna e flora
A análise dos dados foram feitas em torno de quatro temas:
  1. O que representam sobre a cultura amazônica?
  2. Como manifestam a cultura amazônica nas praticas sociais e educacionais;
  3. A que saberes as representações sobre cultura amazonica estão relacionadas?
  4. Quais os efeitos dessas representações no ambiente social e educativo?
Estas questões seguem os presupostos de que o conteúdo cognitivo das representações expressas pelos sujeitos está relacionado às condições socioculturais e ao estatuto epistemologico das representações sociais que se dimensionam como uma forma de leitura de mundo, por sujeitos socio-historico, sendo então, referencia de certa posição social. E, que as representações sociais são formadas no processo de comunicação social, no qual as pessoas adquirem um repertório comum de interpretações e explicações, regras e comportamentos que podem ser aplicadas à vida cotidiana.


Referencias Bibliograficas: OLIVEIRA, Ivanilde Apoluceno de (org.). Cartografias ribeirinhas: saberes e representações sobre práticas sociais cotidianas de alfabetizandos amazônidas. 2.ed. Belém: EDUEPA, 2008.

Interculturalidade e educação em direitos humanos: principais desafios

 Desafios:


Identificação e enumeração de alguns desafios enfrentados na promoção de uma educação intercultural em pespectiva crítica, emancipatória que respeite e promova os direitos humanos e articule questões relativas à igualdade e a diferença:



Desnaturalização/Desconstrução:

É necessário que se conheça o universo de preconceitos e discriminações que impregnam todas as relações sociais, muitas vezes com carater difuso, fluido e sutil; A naturalização faz com que essa problematica fique invisível e cada vez mais complexa. Promover processos de desnaturalização e explicitação da rede de estereótipos e preconceitos que povoam os imaginários individuais e sociais em relação aos diferentes grupos socioculturais.
Questionar o carater monocultural e o etnocentrismo que explicita ou implicitamente estão presentes na escola e nas políticas educativas e impregnam os currículos escolares, a fim de desnaturalizar a pretensa "universalidade" dos conhecimentos.


Articulação:

Entre igualdade e diferença no nível das políticas educativas, assim como das praticas pedagogicas. reconstruir o que consideramos "comum" a todos e a todas, garantindo que neles os diferentes sujeitos socioculturais se reconheçam, assegurando assim, que a igualdade se explicite nas diferenças que são assumidas como referencia comum, rompendo, dessa forma, com o carater monocultural da cultura escolar. É reconhecer e valorizar as diferenças e não segrega-las.

Resgate:

É muito importante o resgate das histórias de vida, tanto pessoais quanto coletivas e que possam ser contadas, reconhecidas, e valorizadas no processo educacional e de identidades culturais, dando atenção aos aspectos relativos a hibridação cultural e a constituição de novas identidades. Promovendo o diálogo entre diferentes conhecimentos e praticas de diferentes grupos.

Promover:

Experiências de interação sistemática com os "outros" para sermos capazes de relativizar nossa propria maneira de situar-nos diante dos diferentes modos de viver e expressar-se exige romper toda tendencia à guetificação presente nas instituições educativas para reconstruir a dinamica educacional.

Consequencia

A educação intercultural não se reduz a situações/atividades realizadas em momentos específicos nem focalizar sua atenção exclusivamente em determinados grupos sociais. Trata-se de um enfoque global que deve afetar todos os atores e dimenssões do processo educativo, pois afeta a seleção curricular, organização escolar, linguagem, praticas didaticas, atividades extraclasse, o papel do professor(a), relação com a comunidade, etc
O emponderamento, principalmente orientados aos atores sociais que tiveram menos poder de decisões no processo coletivo. Desenvolvendo estratégias de fortalecimento do poder de grupos marginalizados para que estes possam lutar pela igualdade de condições de vida, têm no horizonte a promoção de transformações sociais.Outro aspecto fundamental é a formação para a cidadania aberta e interativa, capaz de reconhecer as assimetrias de poder entre diferentes grupos culturais, trabalhar os conflitos e promover relações solidarias.



Referencia Bibliografica: CANDAU, Vera Maria. Direitos Humanos, educação e interculturalidade: as tensões entre igualdade e diferença. Revista Brasileira de Educação. v. 13, n. 37,jan-abr, 2008, pp. 45-56.

Pespectivas fundamentais para a proposta do multiculturalismo

Multiculturalismo Assimilacionista:


Afirma que vivemos numa sociedade multicultural, no sentido descritivo, onde todos não tem as mesmas igualdades de oportunidades. Na pespectiva prescritiva, favorece que todos se integrem a sociedade e sejam incorporados à cultura hegemonica, no entanto, não se mexe na matriz da sociedade, procura-se assimilar os grupos excluídos. No caso da educação, promove-se uma política de universalização da escolarização, todos chamados a participar do sistema escolar, mas sem colocar em cheque o carater monocultural presente de forma total em sua dinamica.
Os grupos excluídos são cooptados, mas sendo considerados inferiores explicita ou implicitamente, tendo sua cultura calada.





Multiculturalismo Diferencialista ou Multiculturalismo plural :

Afirma que, quando se enfatiza a assimilação, se termina por negar a diferença ou por silencia-la. Propõem então colocar a enfase no reconhecimento da diferença e, para garantir a expressão das diferentes identidades culturais. Afirma-se que somente os diferentes grupos sociais poderão manter suas matrizes culturais de base, em contrapartida, algumas posições nesta linha terminam por ter uma visão estática da formação das identidades culturais. É enfatizado a formação, o acesso a direitos sociais e economicos e ao mesmo tempo, a formação de comunidades culturais homogeneas com suas proprias organizações.

Essas duas posições são as mais desenvolvidas nas sociedades em que vivemos, de maneira tensa e conflitiva.

Multiculturalismo Interativo ou Interculturalidade: (Base do diálogo intercultural/resignificação dos direito humanos)

Promove a inter-relação entre diferentes grupos culturais presentes em uma determinada sociedade valorizando a riqueza das diferenças culturais, rompendo paradigmas e concebendo as culturas em contínuo processo de elaboração de construção e reconstrução, e não a antiga visão essencialista. A hibridação cultural é um elemento importante para levar em consideração na dinamica dos diferentes grupos socioculturais. Não se pode desvincular as questões da diferença e da desigualdade presentes hoje de modo particularmente conflitivo tanto no plano mundial quanto em cada sociedade. A pespectiva intercultural afirma essa relação que é complexa e admite diferentes configurações em cada realidade, sem reduzir um pólo ao outro.

O multiculturalismo tem de ser situado a partir de uma agenda política de transformação, sem a qual corre o risco de se reduzir a outra forma de acomodação à ordem social vigente.
Não é recuzar-se a ver a cultura como não conflitiva, a diferença deve ser afirmada dentro de uma política de crítica e compromisso com a injustiça social.

A interculturalidade defende a promoção de uma educação para o reconhecimento do "outro", para o diálogo entre os diferentes grupos sociais e culturais. Uma educação para a negociação cultural, que enfrenta os conflitos provocados pela assimetria de poder entre os diferentes grupos socioculturais favorecendo a construção de um projeto comum, pelo qual as diferenças sejam dialeticamente integradas.


Apesar de varios paises latino-americanos terem introduzido a pespectiva intercultural, nas reformas educativas, não há um entendimento comum sobre as implicações pedagógicas da interculturalidade, nem até que ponto nelas se articulam as dimensões cognitivas, procedimental e atitudinal..

Hermeneutica diatrópíca:

Idéia de que o topoi (lugares comuns retóricos mas abrangentes de determinada cultura) de uma determinada cultura, por mais fortes que sejam, são tão incompletos quanto a propria cultura a que pertencem.

Objetivo:

A luta pelos direitos humanos supõe o exercicio do diálogo intercultural que, exige o exercicio da hermeneutica diatrópica. Tarefa esta complexa e desafiante.

Obstáculos:

Pouco são os autores e as iniciativas que se colocam nessa pespectiva. A analise da problematica dos direitos humanos e as práticas orientadas a trabalhar-las ainda estão aprisionadas na matriz da modernidade. Além disso, as concepções dominantes sobre o diálogo intercultural situam-se geralmente numa pespectiva liberal focalizada entre diferentes grupos socioculturais de modo superficial, sem enfrentar a temática das relações de poder que as perpassam.

Referencia Bibliografica: CANDAU, Vera Maria. Direitos Humanos, educação e interculturalidade: as tensões entre igualdade e diferença. Revista Brasileira de Educação. v. 13, n. 37,jan-abr, 2008, pp. 45-56.

Direitos humanos hoje: um discurso relevante?

Nota-se que existe um discurso reinterativo que afirma fortemente a importancia dos direitos humanos. No entanto, as violações multiplicam-se. No plano internacional nota-se inclusive um retrocesso grande em relação a direitos que pareciam profundamente assimilados pela humanidade, direitos que pareciam plenamente assegurados nas mentalidades internacionais hoje são esquecidos, como no caso da tortura. No Brasil há um esforço sistemático orientado à defesa e a proteção dos direitos fundamentais, mas mesmo assim as violações multiplicam-se.

Existe grande enfase na idéia da indivisibilidade dos direitos das diferentes gerações, no entanto, a exigibilidade desses direitos, imprescindiveis para não ficarem só no campo da retórica, ainda é muito frágil principalmente no que diz respeito aos direitos sociais, econômicos e culturais, o que provoca nos diferentes grupos sociais descrédito e indiferença pois aparentam valer para algumas classes sociais.

Os direitos humanos são apresentados como universais, mas existem diferenças culturais diversas, assim como modos de situar-se diante da vida, dos valores, etc. É possivel construir uma articulação entre o universal e o particular, o universal e o relativo? Para poderem operar como forma de cosmopolitismo rebelde, como globalização contra-hegemônica, os direitos humanos têm de ser reconceitualizado como interculturais e não dentro da pespectiva do "localismo globalizado" ( processo pelo qual determinada realidade local e globalizada com sucesso)

Premissas para reconceitualização dos direitos humanos:
  1. É necessário propor diálogos interculturais sobre preocupações convergentes, ainda que expressas a partir de diversos universos culturais. Somente assim seremos capazes de construir algo juntos, um projeto comum. É necessário negar tanto o universalismo quanto o relativismo absolutos. É preciso superar este debate;
  2. Temos de ter sensibilidade para descobrir em cada universo sociocultural essa idéia de dignidade humana que traduzimos como direitos humanos;
  3. Aumentar a consciência de incompletude cultural de forma positiva;
  4. Existem culturas mais abertas e outras mais fechadas no que tange a dignidade humana. É necessário identificar e potencializar aquelas versões mais abertas, amplas e que apresentam um círculo de reciprocidade mais amplo, que favoreçam o diálogo a/outras culturas;
  5. Não distribuir as pessoas e os grupos sociais entre dois princípios competitivos de pertença hierarquica: - o da igualdade e da diferença.

O "x" da questão:

Como trabalhar a igualdade na diferença?
"Temos o direito a ser iguais, sempre que a diferença nos inferioriza; temos o direito de ser diferentes sempre que a igualdade nos descaracteriza" (Santos 2006)

Essas pespectivas nos levam a discutir diferentes concepções do multiculturalismo presente nas sociedades contemporaneas.


As diferentes abordagens do multiculturalismo


Convem ter sempre presente que o multiculturalismo não nasceu no ambito academico. São as lutas dos grupos sociais, discriminados e excluídos de uma cidadania plena que constituem o local de produção do multiculturalismo, principalmente grupos étnicos. Sua entrada na academia é fragil e objeto de muitas discusões.
Outra dificuldade para penetrar na problematica do multiculturalismo refere-se à polissemia do termo. A necessidade de adjetivá-lo evidencia essa realidade. Situação essa, que levantam fortes questionamentos teóricos em relação ao seu papel na sociedade, pois não são levados devidamente os fatos em consideração ou, quando é feito, são levados apenas aspectos mais superficiais, sem distinguir com maior profundidade as diferentes posições, ou fazem grandes generalizações.

Um 1º passo é distinguir duas abordagens fundamentais: uma descritiva, outra prescritiva.
  • DESCRITIVA: Enfatiza-se a descrição e a compreenssão da construção da formação multicultural de cada contexto específicos;
  • PRESCRITIVA: Entende o multiculturalismo não simplesmente como um dado da realidade, mas como uma maneira de atuar, de intervir, de transformar a dinamica social.
Entender essas abordagens servem para trabalhar as relações culturais e conceber políticas publicas na sociedade.


Referencia Bibliografica: CANDAU, Vera Maria. Direitos Humanos, educação e interculturalidade: as tensões entre igualdade e diferença. Revista Brasileira de Educação. v. 13, n. 37,jan-abr, 2008, pp. 45-56.

Direitos humanos, educação e interculturalidade: as tensões entre igualdade e diferença


Atualmente, estamos tendo a consciência de vivenciar mudanças profundas que ainda não somos capazes de compreender. Para alguns intelectuais estamos vivendo não somente mudanças significativas aceleradas e sim, uma mudança de época em virtude disso suscitam debates acalorados e em muitas áreas da ciência dedicam-se a analisar essa problemática.

Neste contexto, algumas questões centrais se destacam, exemplo disso é a problemática da igualdade e dos direitos humanos, num mundo marcado pela globalização (economia) neoliberal e excludente e as questões da diferença e do multiculturalismo em tempos de mundialização (fenomeno social total que permeia o conjunto das manifestações culturais) com pretensões monoculturais. Pela 1ª vez nos relatórios anuais publicados da PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), intitulado "liberdade cultural num mundo diversificado", que associa explicitamente as questões relativas ao desenvolvimento às culturas. As pessoas estão se mobilizando de novo em torno de velhas injustiças segundo linhas etnicas, religiosas, raciais e culturais, exigindo que sua identidade seja reconhecida, apreciada e aceita pela sociedade mais ampla. Muitas vezes o que exigem é justiça social e mais voz política... E importam-se em saber se seus filhos viverão em uma sociedade diversificada ou numa sociedade em que se espera que todas as pessoas se conformem com uma única hegemonia dominante. E isto vem se estreitando substituindo a problemática dos direitos humanos, muitas vezes entendido como direitos exclusivamente individuais e fundamentalmente civis e políticos, amplia-se e, afirmar-se cada vez mais a importancia dos direitos coletivos, culturais e ambientais e ainda vai se mais longe quando se afirma que a questão dos direitos humanos fica em tal questão que precisa ser resignificada, sendo estes uma construção da modernidade, estão profundamente impregnados com os processos, valores e afirmações propostas pela mesma. Para muitos estamos imersos numa crise multifacetada chamada pós-modernidade.

Matriz da questão:
De uma maneira um pouco simplificada, toda matriz da modernidade enfatizou a questão da igualdade, presente hoje no debate entre igualdade e diferença. Igualdade de todos os seres humanos, esta é a chave para se entender toda luta da modernidade pelos direitos humanos.

No entanto, hoje o centro do interesse não é negar a igualdade, mas se coloca muito mais em evidencia o tema diferença.
Somos todos iguais ou diferentes? antigamente nossas lutas tinham como referencia a afirmação da igualdade, atualmente a questão da diferença assume especial importancia e transforma-se num direito, não só o direito dos diferentes a serem iguais, mas o direito de afirmar a diferença. Não se trata de afirmar ou negar os polos, mas de articula-los para que um nos remeta ao outro.


Ø
Referencia Bibliografica: CANDAU, Vera Maria. Direitos Humanos, educação e interculturalidade: as tensões entre igualdade e diferença. Revista Brasileira de Educação. v. 13, n. 37,jan-abr, 2008, pp. 45-56.

As noções modernas servem para falar de globalização?


Existe uma resistencia a considerar a pós modernidade como uma etapa que substituiria a época moderna. Preferiu-se concebe-la como um modo de problematizar as articulações que a modernidaade estabeleceu com as tradições que tentou excluir ou superar.

A deslocação dos patrimonios etnicos e nacionais, assim como a desterritorialização e reconversão de saberes e costumes foram examinados como recurso para hibridar-se.

A globalização nos coloca ante o desafio de configurar uma "segunda modernidade", mais reflexiva, que não imponha sua racionalidade secularizante e sim, que aceite pluralmente tradições diversas.

Os processos globalizadores acentuam a interculturalidade moderna quando criam mercados mundiais de bens materiais e dinheiro, mensagens e migrantes. Os fluxos e as interações que ocorrem nesses processos diminuíram fronteiras e alfandegas, assim como a autonomia das tradições locais; propiciam mais formas de hibridação produtiva, comunicacional e nos estilos de consumo do que no passado
.


Ao estudar movimentos recentes de globalização advertimos que estes não só integram e geram mestiçagens; também segregam, produzem novas desigualdades e estimulam reações diferenciadoras.

Existem resistencias a aceitar estas e outras formas de hibridação porque geram insegurança nas culturas e conspiram contra sua auto-estima etnocentrica.


Hibridação restrita - A fluidez das comunicações facilita-nos apropriarmos de elementos de muitas culturas, mas isto não implica que as aceitemos indiscriminadamente.
Ex: fascinação branca pelo afro-americano: "incorporo a sua música, mas que não se case com a minha filha".

A intensificação da interculturalidade favorece intercambios, misturas maiores e mais diversificadas do que em outros tempos.
Ex: gente que é brasileira por nacionalidade, portuguesa pela língua, russa ou japonesa pela sua origem, e católica ou índigena pela religião
.


Essa variabilidade de regimes de pertença desafia mais uma vez o pensamento binário a qualquer tentativa de ordenar o mundo em identidades puras e oposições simples.

O que mudou na última década? (Começo):

A perda de controle sobre as economias de cada país se manifesta no desaparecimento da moeda própria, em desvalorizações frequentes ou na fixação maníaca pelo dolar.

A história social das culturas latino-americanas revela que um recurso-chave para a modernização foi multiplicar o estudante do universitario. Desde os anos 80 universidades, envelhecidas e economicamente asfixiadas, voltaram-se para os jovens, segundo Juan Villoro "gigantescas salas de espera em que eles são entretidos para que não se convertam em fator de conflito social".

Consequencias:
Embora muitas jovens se frustrassem a 30, 40 ou 50 anos ao sair das universidades, e às vezes os melhores pesquisadores migrassem para a Europa e EUA, a educação superior buscava produzir intelectuais para o desenvolvimento nacional; Hoje continua frustrando a maioria; pios ainda, somente lhe oferece optar entre ir trabalhar em cargos secundários nos serviços do 1º mundo ou tornar-se tecnicos nas transnacionais que controlam a produção e o comercio do próprio país.

Todas as tendencias de abdicação do público em favor do privado, do nacional, em favor do transnacional, acentuaram-se. Dois processos novos colaboram na reorientação:

  1. É a digitalização e midiação dos processos culturais na produção, na circulação e no consumo;
  2. Envolve o crescimento dos mercados informais, a precarização do trabalho e, em sua modalidade mais espetacular, a narcorreorganização de grande parte da economia e da política, com a consequente destruição violenta dos laços sociais. 
Na cultura, a inovação estética interessada cada vez menos nos museus, nas editoras e no cinema; foi deslocada para as tecnologias eletronicas, para o seu entretenimento musical e d´jays. A hibridação tornou-se mais fácil e multiplicou-se quando não depende dos tempos longos da paciência artesanal ou erudita e sim, da habilidade para gerar hipertextos e rápidas edições audiovisuais ou eletrônicas. Conhecer as inovações de diferentes países e a possibilidade de misturá-las requeria, há 10 anos, viagens frequentes, assinaturas de revistas estrangeiras e a pagar avultadas contas telefônicas; agora trata-se de renovar periodicamente o equipamento de computador e ter um bom servidor de internet.



 Políticas de Hibridação

É possivel democratizar não só o acesso aos bens, mas também a capacidade de hibridar-los de combinar os repertórios multiculturais que esta época global expande? A resposta depende, antes de tudo, de ações políticas e econômicas.

Quero dizer que reivindicar a heterogeneidade e a possibilidade de multiplas hibridações é um primeiro movimento político para que o mundo não fique preso à lógica homogeinizadora do que o capital financeiro tende a emparelhar os mercados, a fim de facilitar os lucros. E que a economia seja redefinida como cenário de disputas políticas e diferenças culturais é o passo seguinte para que a globalização entendida como processo de abertura dos mercados e dos repertórios simbólicos nacionais, como intensificação de intercambios e hibridações, não se empobreça como globalismo, ditadura homogeinizadora do mercado mundial. Talvez a questão decisiva seja continuar a construir princípios teóricos e procedimentos metodológicos que nos ajudem a tornar este mundo mais traduzível, ou seja, convivível em meio as suas diferenças, e a aceitar o que cada um ganha ou perde ao hibridar-se.


Referencias bibliográficas: CANCLINI, Néstor García. Culturas Híbridas. São Paulo: EDUSP, 2008.Introdução à Edição de 2001. As Culturas Híbridas em Tempos de Globalização.(pp.XVII-XL).