segunda-feira, 13 de junho de 2011

Do direito e do dever de mudar o mundo

Todos podem mudar o mundo para melhor, fazê-lo menos injusto, mas a partir da realidade concreta vislumbradas em sua geração e não fundadas em devaneios ou falsidades sem raízes.
O que não se pode é deixar de sonhar estes projetos. A transformação do mundo necessita tanto do sonho quanto a indispensável autenticidade da dependente lealdade de quem sonha as condições históricas, materiais, tecnológicas, científicas do contexto do sonhador. Os sonhos são projetos pelos quais se luta. E sua realização não existe sem obstáculos. Implica um fazer e refazer de estratégias, de luta. Mudar o mundo é um ato político e tem seus contra-sonhos. Tudo faz parte de marcas antigas que envolvem compreensões de realidades, interesses de grupos, preconceitos e ideologias que se perpetuam em contradição a modernidade. Não há atualidade que não seja palco de confrontos, forças marcantes do passado colonialista, em obstáculo aos avanços modernos. Marcas de um passado que insiste em ficar, mas incapaz de perdurar, insistindo e prolongando sua presença em detrimento da mudança.
Toda ação mobilizadora mostra sua eficácia pela contestação. A luta ideológica, política e pedagógica, e ética tanto se verifica em casa, nas relações, na escola, no trabalho, não importando o seu grau. O importante se sou coerente, é testemunhar o meu respeito à dignidade do outro ou da outra. Ao ser direito de ser em relação ao seu direito de ter.
Esta certeza só vem da confiança que mudar é difícil, mas é possível. É o que nos faz recusar qualquer posição fatalista dando-lhe um poder determinante, do qual nada se pode fazer.
Por maior que seja a força oposta condicionante, não se pode aceitar a total passividade perante ela. Na medida em que aceitamos que a tecnologia ou a ciência pouco importa, não temos outro caminho a não ser renunciar nossa capacidade de pensar, de conjecturar, de escolher, de decidir, de projeta e sonhar. Quem não viabiliza a cão por achar-se vencido perde a concretização de sonhar diferente. Esgota a nossa presença ética no mundo.
O fato do ser humano reconhecer o quão influenciado e condicionado está pelas estruturas econômicas o faz também capacitá-lo de intervir nestas estruturas. O contrario da intervenção é a acomodação e deve ser contestada. A adaptação é apenas um momento do processo de intervenção no mundo. É esta a diferença entre condicionamento e determinação. Neguemos a problematização do futuro numa visão mecanicista da historia; Isto só leva a morte dos sonhos e a negação e a negação autoritária da esperança. É que na expressão mecanicista e determinista da historia o futuro já é sabido, e a luta pelo futuro é precedido pela esperança.
O futuro não nos faz. Nós é que nos refazemos na luta para fazê-lo!
Se deve lutar contra a robustez do poder dos poderosos que a globalização intensificou ao mesmo tempo em que debilitou a fraqueza dos frágeis.
Se as estruturas econômicas dominantes nos deixam dóceis, em nome do quê fazer esta luta política que não seja em nome da ética universal do ser humano? Em nome da necessária transformação da sociedade de que decorra a superação das injustiças desumanizantes. Tudo isso porque não sou determinado pelas estruturas econômicas. Por isso, é impossível negar a importância fundamental da subjetividade na história. É percebendo e vivendo a história como possibilidade que experimento plenamente a capacidade de comparar, de ajuizar, de escolher, de decidir, de romper. É assim que mulheres e homens etcizam o mundo, podendo, por outro lado, tornar-se transgressores da própria ética.
A escolha e a decisão, atos de sujeitos, de sua inteligência como tempo de possibilidade necessariamente sublinham a importância da educação que, não podendo jamais ser neutra, tanto pode estar a serviço da decisão, da transformação do mundo, da inserção crítica nele, quanto a serviço da imobilização, da permanência possível das estruturas injustas, da acomodação dos seres humanos à realidade tida como intocável. Por isso, não só falar, mas sim defender, viver uma pratica educativa radical, estimuladora da criatividade crítica à procura sempre das razões de ser dos fatos.  E compreende-se perfeitamente como tal pratica não pode ser aceita, pelo contrario, tem que ser recusada, por quem tem necessidade de manter a defesa de seus interesses. Reconhecendo na educação sua força, constatando a possibilidade que tem os seres humanos de assumir tarefas históricas e o dever de não aceitar posturas fatalistas. O nosso testemunho, se somos progressistas, se sonhamos com uma sociedade menos agressiva, menos injusta, menos violenta, mais humana, deve ser o de quem, dizendo “não” a qualquer possibilidade em face dos fatos, defende a capacidade do ser humano de avaliar, de comparar, de escolher, de decidir e, de finalmente, de intervir no mundo.
 As crianças precisam ter assegurado o direito de aprender a decidir, o que se faz decidindo. Se as liberdades não se constituem entregues a si mesmas, mas na assunção ética de necessários limites, a assunção ética desses limites não se faz sem riscos a serem corridos por elas e pelas autoridades com que dialeticamente se relacionam.
 No aprendizado, é preciso saber que às vezes sem nenhum desrespeito a sua própria autonomia, as crianças precisam atender à expectativa do outro. Mais ainda é necessário que ela aprenda que, a sua autonomia só se autentica no acatamento a autonomia dos outros.
A tarefa progressista está em estimular, possibilitar, nas circunstancias mais diferentes, a capacidade de intervenção no mundo, jamais o seu contrário, o cruzamento de braços em face dos desafios, mas com responsabilidade. Recusar a determinação não significa negar os condicionamentos
Não somos apenas objetos dos fatos sociais e econômicos, a eles adaptando-nos, mas sujeitos históricos também, lutando por outra vontade diferente: a de mudar o mundo, não importando que esta briga dure um tempo tão prolongado que, às vezes, nela sucumbam gerações.


Referencia Bibliografica: Pedagogia da Indignidade – Paulo Freire

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