quinta-feira, 21 de abril de 2011

As culturas híbridas em tempos de globalização


 Hibridação: Processos sócio-culturais nos quais estruturas ou praticas discretas que existiam de forma separada, se combinam para gerar novas estruturas, objetos e práticas.

Ciclos de hibridação: Forma de descrever o transita do discreto ao híbrido, segundo o qual, na história, passamos de formas mais heterogêneas a outras mais homogêneas, e depois a outra relativamente mais hetereogeneas, sem que nenhuma seja “pura” ou plenamente homogênea.
O hibridismo, neste contexto, não é infecundo, trata-se de uma crença do século XIX, quando a hibridação era considerada com desconfiança ao supor que prejudicaria o desenvolvimento social.

 Como a hibridação funciona (mecanismo):
É preciso fundir estruturas ou praticas sociais discretas para gerar novas estruturas práticas; As vezes isso ocorre de modo não planejado ou é resultado imprevisto de processos migratórios turísticos e de intercambio econômico ou comunicacional. Mas freqüentemente a hibridação surge da criatividade individual e coletiva. Não só nas artes, mas também na vida cotidiana e no desenvolvimento tecnológico. Busca-se reconverter um patrimônio (uma fabrica, uma capacitação profissional, um conjunto de saberes e técnicas) para reinseri-lo em novas condições de produção e mercado. Ex: migrantes camponeses que adaptam seus saberes para trabalhar e consumir na cidade ou que vinculam seu artesanato a usos modernos para interessar compradores urbanos.
A análise empírica dos processos de hibridação, articulados com estratégias de reconversão, demonstra que a hibridação interessa tanto aos setores hegemônicos como aos populares que querem apropriar-se dos benefícios da modernidade.
Esses processos nos levam a relativizar a noção de identidade. A ênfase na hibridação não está em se estabelecer identidades “puras” ou “autênticas”. Põe em evidencia o risco de delimitar identidades locais que tentem afirmarem-se como radicalmente opostas à sociedade nacional ou a globalização. Quando se define uma identidade mediante um processo de lembrança de traços (língua, tradições, condutas estereotipadas) frequentemente se tende a desvincular essas praticas da historia de misturas em que se formaram. Em conseqüência, é absolutizado um modo de entender a identidade e são rejeitadas maneiras heterodoxas de falar a língua, fazer a musica ou interpretar as tradições, obturando a possibilidade de modificar a cultura e a política.
A historia dos movimentos identitários revela uma serie de operações de seleção de elementos de diferentes épocas articulados pelos grupos hegemônicos em um relato que lhes dá coerência, dramaticidade e eloqüência.
Em um mundo tão fluidamente interconectado, as sendimentações identitárias organizadas em conjuntos históricos mais ou menos estáveis (etnias, nações e classes) se reestruturam em meio a conjuntos interetnicos, transclassistas e transnacionais. As diversas formas em que os membros de cada grupo se apropriam dos repertórios heterogêneos de bens e mensagens disponíveis nos circuitos transnacionais geram novos modos de segmentação. Estudar processos culturais serve para conhecer formas de situar-se em meio a heterogeineidade e entender como se produzem as hibridações.

Ação:
Os estudos sobre hibridação costumam limitar-se a descrever misturas interculturais. Mal começamos a avançar; como parte da reconstrução sociocultural do conceito, para dar-lhe poder explicativo: estudar os processos de hibridação situando-nos em relações estruturais de casualidade. E dar-lhe capacidade de analisá-lo de forma coerente: torná-lo útil para interpretar as relações de sentido que se reconstroem nas misturas.

Objeções:
Objeções formuladas do conceito de hibridação e que pode sugerir fácil integração e fusão de culturas, sem dar suficiente peso às contradições e ao que não se deixa hibridar.

É possível que se tenha uma visão “otimista” das hibridações. Justamente ao passar do caráter descritivo da noção de hibridação – como fusão de estruturas discretas – a elaborá-la como recurso de explicação, advertimos em que caso as misturas podem ser produtivas e quando geram conflitos devido aos quais permanece incompatível ou inconciliável com as praticas reunidas. Para entendermos as estratégias de entrada e saída da modernidade tentando se falar da hibridação como um processo ao qual é possível ter acesso e que se pode abandonar, do qual podemos ser excluídos ou ao qual nos podem subordinar, entendemos as posições dos sujeitos a respeito das relações interculturais. E assim se trabalhariam os processos de hibridação em relação à desigualdade entre as culturas com a possibilidade de apropriar-se de varias simultaneamente em classes e grupos diferentes e portanto, a respeito das assimetrias do poder e do prestígio. A hibridação, como processo de interseção e transações, e o que torna possível que a multiculturalidade evite o que tem de segregação e se converta em interculturalidade.
As políticas de hibridação serviram para trabalhar democraticamente com as divergências, para que a história não se reduza a guerras entre culturas. Podemos escolher viver um estado de guerra ou em estado de hibridação.

Referencias bibliográficas: CANCLINI, Néstor García. Culturas Híbridas. São Paulo: EDUSP, 2008.Introdução à Edição de 2001. As Culturas Híbridas em Tempos de Globalização.(pp.XVII-XL).

Nenhum comentário:

Postar um comentário