sexta-feira, 22 de abril de 2011

As noções modernas servem para falar de globalização?


Existe uma resistencia a considerar a pós modernidade como uma etapa que substituiria a época moderna. Preferiu-se concebe-la como um modo de problematizar as articulações que a modernidaade estabeleceu com as tradições que tentou excluir ou superar.

A deslocação dos patrimonios etnicos e nacionais, assim como a desterritorialização e reconversão de saberes e costumes foram examinados como recurso para hibridar-se.

A globalização nos coloca ante o desafio de configurar uma "segunda modernidade", mais reflexiva, que não imponha sua racionalidade secularizante e sim, que aceite pluralmente tradições diversas.

Os processos globalizadores acentuam a interculturalidade moderna quando criam mercados mundiais de bens materiais e dinheiro, mensagens e migrantes. Os fluxos e as interações que ocorrem nesses processos diminuíram fronteiras e alfandegas, assim como a autonomia das tradições locais; propiciam mais formas de hibridação produtiva, comunicacional e nos estilos de consumo do que no passado
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Ao estudar movimentos recentes de globalização advertimos que estes não só integram e geram mestiçagens; também segregam, produzem novas desigualdades e estimulam reações diferenciadoras.

Existem resistencias a aceitar estas e outras formas de hibridação porque geram insegurança nas culturas e conspiram contra sua auto-estima etnocentrica.


Hibridação restrita - A fluidez das comunicações facilita-nos apropriarmos de elementos de muitas culturas, mas isto não implica que as aceitemos indiscriminadamente.
Ex: fascinação branca pelo afro-americano: "incorporo a sua música, mas que não se case com a minha filha".

A intensificação da interculturalidade favorece intercambios, misturas maiores e mais diversificadas do que em outros tempos.
Ex: gente que é brasileira por nacionalidade, portuguesa pela língua, russa ou japonesa pela sua origem, e católica ou índigena pela religião
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Essa variabilidade de regimes de pertença desafia mais uma vez o pensamento binário a qualquer tentativa de ordenar o mundo em identidades puras e oposições simples.

O que mudou na última década? (Começo):

A perda de controle sobre as economias de cada país se manifesta no desaparecimento da moeda própria, em desvalorizações frequentes ou na fixação maníaca pelo dolar.

A história social das culturas latino-americanas revela que um recurso-chave para a modernização foi multiplicar o estudante do universitario. Desde os anos 80 universidades, envelhecidas e economicamente asfixiadas, voltaram-se para os jovens, segundo Juan Villoro "gigantescas salas de espera em que eles são entretidos para que não se convertam em fator de conflito social".

Consequencias:
Embora muitas jovens se frustrassem a 30, 40 ou 50 anos ao sair das universidades, e às vezes os melhores pesquisadores migrassem para a Europa e EUA, a educação superior buscava produzir intelectuais para o desenvolvimento nacional; Hoje continua frustrando a maioria; pios ainda, somente lhe oferece optar entre ir trabalhar em cargos secundários nos serviços do 1º mundo ou tornar-se tecnicos nas transnacionais que controlam a produção e o comercio do próprio país.

Todas as tendencias de abdicação do público em favor do privado, do nacional, em favor do transnacional, acentuaram-se. Dois processos novos colaboram na reorientação:

  1. É a digitalização e midiação dos processos culturais na produção, na circulação e no consumo;
  2. Envolve o crescimento dos mercados informais, a precarização do trabalho e, em sua modalidade mais espetacular, a narcorreorganização de grande parte da economia e da política, com a consequente destruição violenta dos laços sociais. 
Na cultura, a inovação estética interessada cada vez menos nos museus, nas editoras e no cinema; foi deslocada para as tecnologias eletronicas, para o seu entretenimento musical e d´jays. A hibridação tornou-se mais fácil e multiplicou-se quando não depende dos tempos longos da paciência artesanal ou erudita e sim, da habilidade para gerar hipertextos e rápidas edições audiovisuais ou eletrônicas. Conhecer as inovações de diferentes países e a possibilidade de misturá-las requeria, há 10 anos, viagens frequentes, assinaturas de revistas estrangeiras e a pagar avultadas contas telefônicas; agora trata-se de renovar periodicamente o equipamento de computador e ter um bom servidor de internet.



 Políticas de Hibridação

É possivel democratizar não só o acesso aos bens, mas também a capacidade de hibridar-los de combinar os repertórios multiculturais que esta época global expande? A resposta depende, antes de tudo, de ações políticas e econômicas.

Quero dizer que reivindicar a heterogeneidade e a possibilidade de multiplas hibridações é um primeiro movimento político para que o mundo não fique preso à lógica homogeinizadora do que o capital financeiro tende a emparelhar os mercados, a fim de facilitar os lucros. E que a economia seja redefinida como cenário de disputas políticas e diferenças culturais é o passo seguinte para que a globalização entendida como processo de abertura dos mercados e dos repertórios simbólicos nacionais, como intensificação de intercambios e hibridações, não se empobreça como globalismo, ditadura homogeinizadora do mercado mundial. Talvez a questão decisiva seja continuar a construir princípios teóricos e procedimentos metodológicos que nos ajudem a tornar este mundo mais traduzível, ou seja, convivível em meio as suas diferenças, e a aceitar o que cada um ganha ou perde ao hibridar-se.


Referencias bibliográficas: CANCLINI, Néstor García. Culturas Híbridas. São Paulo: EDUSP, 2008.Introdução à Edição de 2001. As Culturas Híbridas em Tempos de Globalização.(pp.XVII-XL).

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