quinta-feira, 21 de abril de 2011

Que "negro" é esse na cultura negra? - Resumo



Atualmente, o modelo cultura, baseia-se em três grandes eixos conjunturais:

·                      Deslocamento dos modelos europeus de alta cultura, enquanto sujeito universal da cultura;
·                      Surgimento dos EUA como potencia mundi global e consequentemente como centro de produção e circulação global de cultura. Sua cultura de massa mediada pela imagem e formas tecnológicas;
·                      Descolonização do 3º mundo (impacto dos direitos civis e as lutas negras pela descolonização das mentes dos povos).

As qualificações que tornam o momento presente tão peculiar são:

·          A relação ambivalente dos EUA com a alta cultura européia e a ambiguidade da relação dos EUA com suas próprias hierarquias étnicas internas. A bem pouco tempo a Europa Ocidental não tinha ou reconhecia que tivesse. Os EUA sempre tiveram uma série de etnicidade e conseqüentemente, a construção de hierarquias étnicas sempre definem suas políticas culturais. E dentro deste deslocamento silencioso estava à própria cultura popular americana que silenciada às tradições vernaculares (da própria região) da cultura popular negra americana;

·          A natureza do período de globalização cultural atualmente em processo. O pós modernismo desenvolve-se de forma desigual como um fenômeno onde os antigos centros da alta modernidade reaparecem consistentemente. É impossível rejeitar uma culinária étnica pós-moderna sem um toque global, o que se pode chamar de dominante cultural. Só mesmo o modernismo nas ruas como forma de uma importante oportunidade estratégica para a intervenção no campo da cultura popular

·          Profunda e ambivalente fascinação do pós modernismo pelas diferenças sexuais, raciais, culturais e, sobretudo étnicas em total oposição a cegueira e hostilidade que a alta cultura européia demonstrava pela diferença étnica. Não há nada que o pós modernismo global mais adore do que um toque de etnicidade, um sabor “exótico”. Esse primitivismo, administrado pelo modernismo via uma sensação de retorno do estranho familiar e marca o surgimento ambíguo da etnicidade no âmago do pós moderno global.

Dentro da cultura, a marginalidade, embora permaneça periférica em relação ao popular, nunca foi um espaço tão produtivo quanto tem sido não por uma abertura dos dominantes à ocupação dos de fora é resultado de políticas culturais da diferença, da luta em torno de novas identidades e do aparecimento de novos sujeitos em cenário político e cultural. Isso vale não somente para raças, mas também para outras etnicidades marginalizadas (feministas, gays, lésbicas etc) como resultado de um novo tipo de política cultural. As diferenças entre o erudito e o popular é o que o pós moderno global está deslocando. A hegemonia cultural não se trata da vitória ou dominação pura, não é um jogo de “perde e ganha”, sempre tem a ver com a mudança no equilíbrio de poder nas relações de cultura.

Existe uma atitude do tipo “nada muda, o sistema sempre vence”, mas estratégias culturais capazes de efetuar diferenças e de deslocar as disposições do poder existem, apesar dos espaços “conquistados” para a diferença são poucos, dispersos e cuidadosamente policiados, regulados e segregados, a fim de que mantenham a invisibilidade. Mas simplesmente menospreza-la, chamando-a de “o mesmo”, não adianta. Depreciá-la desse modo reflete meramente o modelo específico das políticas culturais ao qual continuamos atados, precisamente o jogo da inversão.

O pós moderno representa uma abertura ambígua para a diferença e para as margens e faz com que um certo tipo de descentramento da narrativa ocidental torne-se provável, ele é acompanhado por uma reação que vem do âmago das políticas culturais: 

·          A resistência agressiva à diferença; a tentativa de restaurar o cânone da civilização ocidental;
·          O ataque direto e indireto ao multiculturalismo;
·          Retorno às grandes narrativas da historia, da língua e da literatura (os três grandes pilares da sustentação da identidade e das culturas nacionais);
·          A defesa do absolutismo ético;
·          E as novas xenofobias que estão prestes a subjulgar a Europa. Parte do problema é que temos esquecido que tipo de espaço é o da cultura popular. Parece que a dialética acabou.

 A cultura popular carrega um peso provindo da palavra “popular”, que tem suas bases em experiências, prazeres, memórias e tradições do povo. Tem ligações com as esperanças e aspirações locais, tragédias, cenários e praticas da experiência cotidiana de pessoas comuns ligando-se ao que Bakhtin chama de “vulgar” – o popular, o informal, o lado inferior, o grotesco – eis porque foi contraposta a cultura de elite. Mas este cabo de guerra não é importante. O papel do popular na cultura popular é o que fixa as autenticidades das formas populares, enraizando-as nas experiências das comunidades populares das quais elas retiram o seu vigor permitindo vê-las como expressão de uma vida social subalterna específica, que resiste a ser constantemente reformulada enquanto baixa e periférica. Ela hoje está tornando-se a forma dominante da cultura global. Ela é o espaço de homogeinização em que o estereótipos e as formulas processam as experiências trazidas dentro de sua rede. Espaço onde narrativas e representações passam para as mãos das burocracias culturais estabelecidas às vezes até sem resistência, disponível para expropriação. Isso é inevitável e necessário para todas as culturas do mundo moderno.
Por definição a cultura negra é um espaço contraditório. É um local de contestação estratégica, mas nunca pode ser explicada ou simplificada em simples oposições binárias.
Não importa o quão deformadas sejam as formas como os negros e suas tradições/comunidades sejam representadas na cultura popular, continuamos a ver nessas figuras aos quais a cultura popular recorre, as experiências que estão por trás delas. Em sua expressividade, musicalidade, etc. Elas trazem outras formas de vida.

Três comentários pertinente para desenvolver o argumento:

1.        Observe como dentro do repertório negro o estilo – que os críticos culturais da corrente dominante muitas vezes acreditam ser uma simples casca tornou-se matéria do acontecimento;
2.        Deslocados de suas próprias noções de verdadeiro e falso  domínio da escrita, o povo da diáspora negra tem encontrado em oposição a tudo isso, a estrutura profunda de sua vida cultural na musica;
3.        Como essas culturas tem usado o corpo como se ele fosse, e muitas vezes foi, o único capital cultural que tinham.

Existem aqui questões profundas de transmissão de herança cultural das origens africanas e as disperssões irreversíveis da diáspora. Esses repertórios, uma vez excluídos da corrente cultural dominante – eram os únicos espaços performáticos restantes que foram sobre determinados de duas formas:
1.        Parcialmente por suas heranças;
2.        Determinado criticamente pelas condições diaspóricas nas quais as conexões foram forjadas. A apropriação seletiva de ideologias, culturas e instituições européias, conduziram a inovações lingüísticas na estilização retórica do corpo, as formas de ocupar um espaço social alheio, expressões potencializadas, estilos de cabelo, posturas, gingados, maneiras de falar, bem como meios de constituir e sustentar o companheirismo e a comunidade.

 Negros constituídos a partir de duas direções conferencias de mais de uma tradição cultural, resignificando a partir de materiais pré-existentes. Formas híbridas de uma base vernacular. Elas não são a recuperação de algo puro pelo qual podemos nos orientar, são adaptações conformadas a espaços híbridos da cultura popular.
Essa marca da diferença dentro das formas da cultura popular aparecem como impuras e ameaçadoras pela agregação ou exclusão é carregada pelo significante “negro” na expressão cultura popular negra. Ela chegou a significar a comunidade negra onde se guardam as tradições e cujas lutas sobrevivem na persistência da diáspora. A “boa” cultura popular passa no teste de autenticidade, que é a referencia à experiência negra e de sua expressividade. Serem como garantias para determinar o que é ou não cultura negra.
Esse momento essencializa as diferenças em vários sentidos. Enxerga a diferença como “as tradições deles versus as nossas”, de uma forma excludente. O que esse movimento burla é a essencialização da diferença dentro das duas oposições mútuas ou/ou. Seria uma lógica diferente da diferença, ou seja o “ou” permanente é um local de contestação constante quando o propósito da luta deve ser substituir o “ou” pelo “e”. Posso ser negro e Britânico. Isso não esgotam todas as suas identidades.
O momento essencializante é fraco porque confunde o que é histórico e cultural do que é biológico e genético. No momento em que o significante “negro” é arrancado de seu encaixe histórico, cultural e político, e é alojado em uma categoria racial, valorizamos pela inversão a própria base do racismo que estamos tentando desconstruir. A discussão não é somente se algo é negro ou não é puro ou impuro. E como se pudéssemos traduzir a natureza em política usando uma categoria racial.
O negro só precisa ser e não confirmar quem é através do externo (política de representação). Negro não é na realidade nada que está rotulado por aí. É a diversidade e não a experiência que devemos dirigir nossa atenção criativa, não somente para apreciar diferenças históricas e experiências entre comunidades, regiões e diásporas mas reconhecer outros tipos de diferenças que se localizam na cultura do povo negro.
Em resumo, não é apenas uma viagem de redescoberta: é uma produção. Tem sua matéria-prima, seus recursos, seu “trabalho produtivo”;
Estamos sempre em processo de formação cultural. A cultura não é uma questão da natureza do ser, mas de se tornar;
A globalização vem elucidando as trevas do próprio “iluminismo” ocidental. As identidades, concebidas como estabelecidas e estáveis, estão “naufragando nos rochedos de uma diferenciação que prolifera”.
Há dois processos opostos em funcionamento nas formas contemporâneas de globalização; existem as forças dominantes que ameaçam subjulgar todas as culturas que aparecem, impondo uma mesmice cultural homogeinizada (seus efeitos podem ser vistos em todo o mundo); e os processos que sutilmente estão descentralizando os modelos ocidentais, levando a uma disseminação da diferença cultural em todo o globo;
A alternativa não é apegar-se em modelos fechados unitários e homogêneos de “pertencimento cultural”, mas abarcar os processos mais amplos – o jogo da semelhança e da diferença – que estão transformando a cultura do mundo inteiro. É o caminho da “diáspora”, que é a trajetória de um povo moderno e de uma cultura moderna.

Referencia bibliográfica: HALL, Stuart. Da Diáspora. Identidades e mediações culturais. In. SOVIK, Liv (Org.) Belo Horizonte: Ed UFMG; Brasília: Representação da UNESCO no Brasil, 2003. Capítulo 3: Cultura Popular e Identidade. Que "negro" é esse na cultura negra, pp. 335-349.170

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